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A incrível história de Pedro Estrela: do sonho do UFC ao do remo paralímpico

  • leandrotumasz4
  • 27 de mai. de 2015
  • 11 min de leitura

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Estrela. Na definição dos dicionários significa "astro que tem luz própria", "destino" ou "sorte", entre outros significados. Já o do nome Pedro é "pedra ou rochedo". Coincidência ou não, Pedro Estrela, de apenas 20 anos, precisou ser uma fortaleza e também contar com a ajuda do destino para sobreviver aos tiros que levou quando saía de uma festa. O acidente interrompeu seu sonho de ser lutador de MMA profissional e o fez ter que amputar uma das pernas. Talvez seja controverso dizer que um jovem que perde um dos membros inferiores teve sorte, mas a própria médica que o atendeu disse a ele jamais ter visto um paciente baleado na artéria femoral sobreviver.

Ciente de que sua trajetória dá um roteiro de filme, Pedro, que iniciou nas artes marciais aos 16 anos, quer apenas poder voltar a praticar esportes. A inspiração vem do surfista biamputado Pauê Aagaard, que também já foi campeão em prova de triatlo.

- Eu vi que realmente é tudo programado. Deus faz as coisas como tem que ser. Ele viu que eu não ia desistir e me deu forças para eu continuar. Fiquei 20 dias no hospital. A recuperação foi milagrosa. Iniciei a fisioterapia com um mês de amputação. Tem gente que demora muito mais tempo, até três meses para se readaptar por causa da cabeça. Não quer falar nada, só quer ficar deitado. Quem também me motivou muito foi o Pauê, que é biamputado. Ele é o primeiro surfista biamputado do mundo. Passei a segui-lo no Facebook. Ele é triatleta, surfa, anda de bike, nada, pega mulher, faz de tudo. E eu que perdi a metade de uma vou ficar em casa esperando a vida passar? Aos 20 anos? - disse, em entrevista ao Combate.com, em sua casa, no bairro de Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Apesar dos problemas, Pedro mantém o bom humor e a confiança (Fotos: Raphael Marinho e Arquivo Pessoal)

Desistir é uma palavra que não está no dicionário de Pedro Estrela. Sua intenção agora é poder praticar boxe por lazer e se dedicar ao remo paralímpico. O objetivo de um dia atuar no UFC foi deixado de lado. Atualmente, ele precisa comprar uma prótese e conta com doações para arrecadar o dinheiro necessário. O modelo mais barato custa R$ 36 mil, enquanto o mais caro e que lhe garante a possibilidade de ser pugilista, além de ter garantia de seis anos, vale R$ 300 mil (veja no fim da reportagem como ajudar).

- Eu não vou parar de lutar, nem que seja apenas por hobby. Sei que para eu ter uma carreira profissional e ganhar dinheiro como eu sonhava, ser campeão do UFC, eu sei que não dá, a não ser que eu faça igual aquele cara que não tem uma parte de um braço (Nick Newell, lutador do WSOF). Ele é brabo mesmo. Estou fazendo fisioterapia com a doutora Ana Paula, no IBMR. Ela trabalha com a seleção de vôlei paralímpico, mas não gosto de vôlei. Preferi fazer remo, e ela disse que me ajuda a entrar na seleção de remo. Meu foco é ser atleta. Mas não quero desistir da luta. MMA não dá, e boxe no Brasil não tem como, pois conseguir uma bolsa-atleta é quase impossível. Quando comecei a treinar, era hiperativo. Imagina eu dentro de casa, deitado... Não tem como. Quero ser atleta.

A BRIGA QUE MUDOU A VIDA DE PEDRO

No dia 21 de março, enquanto o Maracanãzinho recebia a sétima edição de um evento do Ultimate no Rio de Janeiro, Pedro Estrela ia para a festa de sua amiga, Carol, na Praia da Reserva, que fica na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O evento foi marcado em um quiosque, e Pedro foi acompanhado de quatro amigos e a namorada de um deles. No mesmo dia, curiosamente, sua mãe lhe contara uma história que ele jamais esqueceu. A frase "Pedro, você tinha que ver o cara que veio aqui trazer o gás para mim, sem perna" ficou gravada na memória.

Pedro Estrela conversou com a reportagem do Combate.com na sua casa, em Laranjeiras (Foto: Raphael Marinho)

- Eu ri da minha mãe e falei para ela parar de falar aquilo. Eu andava muito de moto, pois um amigo meu, Gabriel Manna, tem moto e me emprestava, por isso ela era grilada. Saí da casa dela já na intenção de ir para a festa. Vim em casa, ainda pensei em não ir, mas meu amigo me ligou e a gente foi - recordou, com ar de quem sabe que as palavras de sua mãe acabaram sendo um aviso prévio.

Entre 2h30 e 3h da manhã, Pedro e seus amigos resolveram ir embora e foram até o estacionamento. O grupo estava dividido em dois carros. Ele e Ricardo, um dos que o acompanhou na festa, brincavam simulando uma discussão. Um outro grupo, maior que o deles, chegou perguntando se estavam querendo arrumar confusão. O próprio Pedro tomou a iniciativa de explicar que era brincadeira, pedir desculpas e entrar no carro para evitar tumulto. Mas um dos rapazes seguiu provocando seus amigos, e um deles, que Estrela prefere não revelar o nome, já tinha bebido e revidou as provocações com um soco no rosto. A partir daí, a vida de Pedro Estrela começou a mudar.

Após o soco, outro homem partiu para cima dos amigos de Pedro para revidar a agressão. Gabriel Manna viu e o segurou para a briga não prosseguir, mas não esperava que o rapaz estivesse armado. Um tiro atingiu o fêmur de Gabriel. Ricardo o socorreu e o colocou no banco de trás do carro. Estrela foi para o banco do carona, enquanto Ricardo tentava ligar o automóvel. O outro amigo, que deu o primeiro soco, fugiu para o mar, enquanto as balas iam em sua direção. Conseguiu escapar a nado e chegou a trocar de roupa com um mendigo para se safar. Mas para fugir de lá não foi fácil, e Pedro acabou sendo atingido.

Cicatriz na mão de Pedro Estrela após o tiro de raspão (Foto: Raphael Marinho)

- Eu já estava a salvo dentro do carro, e o Ricardo já tinha socorrido o Gabriel, que estava ensanguentado no banco de trás. Eu estava no banco do carona, estava tudo escuro, o carro estava todo fechado, mas o Ricardo não estava conseguindo sair porque não enxergava nada. Saí metendo a mão para ligar a lanterna e consegui. Nisso que ligou, vi o cara vindo na minha direção. Ele puxou a arma e atirou. Quando vi, já coloquei a mão na minha cabeça. O tiro atravessou o vidro, pegou de raspão na minha mão e perfurou o encosto de cabeça do carro. Aí vi que os caras estavam vindo para matar mesmo, sem piedade.

PERSEGUIÇÃO E PIEDADE

Ricardo acelerou o carro, mas a quantidade de tiros assustava. A caminho do hospital e com Gabriel baleado, chegaram a pensar que não eram mais alvos após deixarem o local. Quando menos esperavam, um carro começou a persegui-los em alta velocidade e as balas atingiam o automóvel a todo instante. Foram 12 perfurações no veículo no total. Com medo de acabar morrendo, Pedro Estrela resolveu pular do carro. Ricardo reduziu um pouco a velocidade, e ele se jogou, mas, ao colocar a perna para fora enquanto saltava, acabou alvejado.

- Eles vieram voando, lembro que era um Corolla preto, meus amigos não queriam que eu me jogasse porque estava perto de uma curva, mas me joguei. Nisso que botei a perna para fora, levei um tiro na artéria femoral. Não sei se o cara viu e acertou propositalmente ou se ele atirou no carro e, para o meu azar, me acertou. Já caí em um "matinho" na curva. Não lembro se era uma ciclovia, mas lembro que já caí sabendo que tinha levado um tiro e com a mão na perna. Rezei muito, pedi perdão a Deus, pensei na minha mãe, no meu irmão menor, e comecei a gritar. Sempre tive pavor de arma, de tiro. Pedi muito a Deus para não morrer. Começava a rezar um Pai Nosso e não conseguia terminar. Estava muito nervoso. Tentava tampar o ferimento com a mão, mas parecia que estava tentando tampar uma torneira quebrada, que jorra água. Só que neste caso era sangue. Muito sangue. Não deu. Sabe quando você se levanta muito rápido e tudo começa a escurecer? Então, eu estava assim - contou.

Pedro Estrela viveu drama após festa de uma amiga na Praia da Reserva (Foto: Raphael Marinho)

O autor do disparo desceu do carro e andou em sua direção. A primeira ordem foi para mandá-lo virar de bruços. A arma já tocava sua face, quando Pedro passou a pedir por piedade de forma desesperada. Do jeito que deu, disse que não era vagabundo, que nunca havia feito mal a ninguém e abriu o coração para seu algoz ao revelar que queria se tornar lutador do UFC um dia. "Foi o coração que falou", recorda. Com o cano no rosto, ouviu a resposta: "Tu não vai morrer não (sic), moleque". E o homem retornou para o carro que estava.

Pedi muito a Deus para não morrer. Começava a rezar um Pai Nosso e não conseguia terminar. Estava muito nervoso. Tentava tampar o ferimento com a mão, mas parecia que estava tentando tampar uma torneira quebrada, que jorra água. Só que neste caso era sangue"

Pedro Estrela, sobre tiro sofrido na perna

- Pensei: "Será que a vida é isso mesmo? Por causa de uma bobeira eu levo um tiro e a minha vida acaba assim mesmo?" Cada segundo passava em câmera lenta. Sempre fui muito ligado em bem material, então me preocupei com o meu celular, que estava na minha mão. Aí desmaiei. Só lembro de um cara me acordando, eu jogado, um monte de gente que estava na festa me olhando assustado. Ele já tinha feito um torniquete, estancado o meu sangue e falou: "Caraca, que bom que você acordou", aí falei: "Me salva, irmão, não deixa eu morrer, não quero morrer, eu treino, quero ser lutador do UFC, quero lutar". Ele me falou que era bombeiro e lutador também, treinava jiu-jítsu na GFTeam. Ele foi conversando comigo para eu não apagar. Disse que estava correndo, me viu jogado e foi me ajudar. Agradeci. Estava consciente, mas não estava sentindo o movimento do meu pé. Pensei que estivesse dormente por causa da circulação, então fiquei tranquilo. Deu uns 20 minutos e a ambulância chegou. Tinham uns policiais me olhando também, mas eles nem entraram na ambulância. Fui sozinho com os socorristas, vendo sangue para todo o lado e pedindo para eles me salvarem.

Pedro Estrela foi levado para o hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, e lá encontrou Diogo Manna, irmão de Gabriel, e Ricardo. Gabriel também estava lá sendo atendido pelo tiro que levara. Os dois conversaram e a impressão que Pedro teve é que estava tudo bem, exceto pelo fato de não sentir seu pé direito. Como Gabriel Manna tinha plano de saúde, foi transferido para um hospital particular, mas Estrela ficou lá mesmo. Seus tios, que lhe criaram, chegaram no local sem saber que ele tomara um tiro na perna, já que Diogo só viu a marca do tiro de raspão na mão e não teve como contar. Pouco depois, foram informados que o disparo possivelmente atingira a artéria femoral. A radiografia também revelou uma fratura na tíbia. A cirurgia na perna necessitava de urgência, e a mãe de Ricardo, que é médica, ligou para alguns conhecidos dela e conseguiu um cirurgião para realizar a operação. Sete horas depois de chegar ao hospital, Pedro foi para a mesa de cirurgia.

ENTRE A CRUZ E A ESPADA

Um enxerto foi feito para segurar a veia da perna direita, mas Pedro não respondeu bem à cirurgia. Com medo de estourar, os médicos realizaram novo enxerto, dois dias depois do primeiro. O prazo para saber se não daria problema era de 72 horas, mas foi encurtado por conta de uma hemorragia. Às pressas, ele precisou voltar para a sala de cirurgia. O quadro era de febre alta e infecção geral nos nervos da perna. Mas a operação não foi o suficiente para manter o corpo do jovem intacto. Àquela altura, a chance de Pedro morrer era grande. "A doutora que estava lá me disse que, em 20 anos de trabalho, nunca viu ninguém sobreviver àquela situação".

Só restavam duas opções para Estrela: amputar a perna direita ou se entregar e morrer. Os médicos entregaram uma autorização para sua mãe assinar, permitindo a amputação. Desesperada, ela não quis assinar. Todavia, Pedro manteve-se consciente por todo o tempo e ele mesmo assinou.

- Ou assinava ou morria. Eles falaram que tentaram salvar minha perna, mas não teve jeito, pois a perna estava muito infeccionada e já estava sendo toda comida. Estava aberta do joelho à panturrilha. O médico falou que seria uma cirurgia agressiva, mas que salvaria a minha vida. Fiquei triste, claro, mas, por outro lado, fiquei feliz pois voltaria para a minha família. Amputaram a perna do joelho para baixo - explicou, com uma maturidade que não condiz com a sua idade.

Pedro Estrela durante internação no hospital Lourenço Jorge (Foto: Arquivo Pessoal)

Foram 18 dias no hospital, com febre alta todos os dias. Chegou a ter alucinações em uma delas, se debatia de frio e, enquanto a enfermeira media sua temperatura antes de lhe medicar, viu a morte bater à porta mais uma vez, com batimentos cardíacos chegando a 173 batidas por minuto. Mas conseguiu se recuperar. O apoio de Diogo Manna é considerado fundamental não só por ele, mas também por sua tia-avó, Dona Rosa, com quem mora. Pedro o define como "um anjo que Deus colocou lá comigo". O amigo ia todos os dias no hospital para lhe fazer companhia.

Comecei a encarar de frente. Olhei para uma perna e para a outra e pensei: "Vou parar só porque perdi uma parte da minha perna? Não!". Olhei para o seu Paulo e falei: "O senhor vai desistir só por causa de uma parte da sua perna? Vai morrer por causa disso? Olha a sua filha aí do seu lado te dando força". E todo mundo que chegava lá naquela situação, eles me chamavam para dar força.

Pedro Estrela

A força de Pedro de não se deixar abater impressiona. Seu ânimo para se recuperar o fez ser indicado para ajudar pacientes que estavam internados na mesma situação.

- Tinha um coroa lá que estava amputado há dois meses, o seu Paulo. Não sei como tirei forças, porque todo mundo que me conhece sabe como amo lutar. Meu plano era lutar até os 40, como o Anderson Silva, e arrancaram a minha perna. O Diogo Manna, por ser muito religioso, me ajudou muito também. Comecei a encarar de frente. Olhei para uma perna e para a outra e pensei: "Vou parar só porque perdi uma parte da minha perna? Não!". Olhei para o seu Paulo e falei: "O senhor vai desistir só por causa de uma parte da sua perna? Vai morrer por causa disso? Olha a sua filha aí do seu lado te dando força". E todo mundo que chegava lá naquela situação, eles me chamavam para dar força. Uma vez chegou uma moça lá e perguntou se eu era o Estrela. Disse que queria me conhecer porque eu estava famoso no hospital (risos). Quando voltei lá para retirar os pontos, perguntei a um rapaz que estava internado perto da gente sobre o seu Paulo, e ele disse que o seu Paulo sempre perguntava por mim e chorava quando lembrava. Acabou indo embora rápido.

A VIDA DE PEDRO ATUALMENTE

Hoje, Pedro costuma passar o dia em sua casa, em Laranjeiras, na companhia de sua tia-avó materna. Com uma recuperação física muito rápida, ele já consegue se locomover pela casa e ficar de pé, mas, na maior parte do tempo, está na cama, navegando na internet ou jogando vídeo game. Hiperativo, não vê a hora de voltar a praticar esportes.

Vez ou outra, sai de casa com a ajuda de amigos. Recentemente, compareceu na última edição do Shooto Brasil, que é perto de sua casa. Mas não é simples se locomover sem ter a prótese. Da entrada do condomínio até sua casa, são 98 degraus. Nada fácil.

Pedro Estrela navega na internet no quarto de sua casa (Foto: Raphael Marinho)

Com relação aos responsáveis pelo que lhe ocorreu, o jovem revelou não ter feito Boletim de Ocorrência. Durante o período no hospital, um policial foi até ele e o perguntou o que tinha acontecido. Ao ser pressionado pelo homem que afirmava que ele sabia quem tinha lhe atirado, disse que realmente não sabia, mas ficou desconfiado.

- Para os caras fazerem isso, devem ser milícia, polícia, realmente não sei. Até vi os caras na discussão, mas não lembro muito. Eles estavam lá para matar alguém. Só queriam arrumar um motivo. O que parece é isso.

INTERESSADOS EM AJUDAR PODEM FAZER DOAÇÕES

Sem dinheiro para comprar as próteses, Pedro Estrela tem contado com a ajuda dos amigos para arrecadar a verba necessária para que volte a praticar esporte, que é a sua paixão. Os interessados podem fazer doações para a conta do próprio Pedro.

Dados para depósito:

Nome: Antônio Pedro Estrela CPF: 138.947.767-30

Banco Itaú Agência: 8055 Conta Poupança: 16828-3/500


 
 
 

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