Inglês invicto no MMA, e que fez sua carreira no Brasil, estreia no Ultimate
- leandrotumasz4
- 30 de mai. de 2015
- 7 min de leitura

"Ninguém tem uma história como a minha. Não sei de ninguém na luta que tenha passado pelo que passei". A afirmação soa pretensiosa, mas o inglês Darren Till de fato tem uma história capaz de despertar a curiosidade. Nascido em Liverpool, o lutador fez sua carreira no MMA inteiramente no Brasil e, após 12 vitórias em 12 lutas, fará a sua estreia no Ultimate neste sábado, no UFC Goiânia, contra Wendell Negão.
Till chegou no país em 2012 com a intenção de ficar apenas seis meses, após passar dois meses internado em um hospital na Inglaterra por ter levado duas facadas na costela depois de se ver envolvido em uma briga em uma boate. O drama vivido acabou servindo de álibi para sua mudança para o Brasil.
- Estava na festa, começou uma briga e me deram as facadas. Não lembro muito. Acho que meu amigo estava brigando, eles sabiam quem eu era e foram pra cima de mim. Voltei para a academia depois de ficar dois meses no hospital e meu professor falou :"Aqui não tem nada para você. Por que você não vai para o Brasil, com o Marcelo Brigadeiro, e fica um tempo lá para seguir na carreira de MMA?". Em uma semana arrumei as malas, dei tchau para a família e vim para o Brasil. Era para ficar só seis meses, mas quando vi Balneário Camboriú (SC), e o jeito de treinar e viver no Brasil, não quis voltar. Conheci uma menina de lá e, depois de um mês, ela ficou grávida - contou, em entrevista ao <b>Combate.com
A menina se chama Gisella e deu à luz Scarlett Isabella Till, que está com um ano e três meses. Inicialmente, a reação dos familiares de Darren foi de surpresa e não houve muito apoio financeiro por parte deles, até mesmo por conta da distância, mas, mãe, pai e tio já vieram ao Brasil, conheceram a pequena Scarlett e até brincaram com o lutador ao questionar o motivo de Gisella ficar com ele. A origem do nome da menina é por Darren Till ser fã da atriz Scarlett Johansson, enquanto Isabella foi escolhido por sua namorada.
- Fizemos um chá de bebê e um chá de panela para ganhar coisas, porque aqui no Brasil as coisas são caras (risos). E assim foi indo. Minha namorada é mais escura, e ela falava que queria que a filha fosse que nem ela, mas acabou vindo uma "alemã", bem branca. Quando você tem filha, você pensa em fazer tudo para ela. Estou aqui hoje para mim, mas mais para ela. Ela é tudo pra mim - derrete-se.
Till impressiona pelo português fluente e repleto de gírias. Entre um "tá ligado" e um "de boa", o atleta revelou que depois de chegar sem saber nenhuma palavra do idioma, já se virava após "três ou quatro meses".
- Todo mundo fala para mim que eu falo um português muito bom. Cheguei aqui e não sabia falar nada. Estudei muito, minha namorada me ajudou, e eu me esforcei, até porque ia ter uma filha, então queria que ela falasse bem português e inglês.
INÍCIO NO MUAY THAI
O primeiro contato de Darren Till com as artes marciais foi aos 10 anos, praticando boxe por um ano. Aos 12, ele procurou uma academia de muay thai e teve apoio do seu pai para se dedicar à luta. Até os 18 anos, o inglês seguiu no esporte e chegou a morar por alguns meses na Tailândia e no Canadá, mas acabou abandonando pela dificuldade de conseguir dinheiro.
Após descobrir o Team Kaobon, conversou com seu amigo Paul Taylor, que já lutou no UFC, e passou a treinar com nomes como Paul Sass, Terry Etim e Paul Kell, todos com passagens pelo Ultimate. Apesar de ter iniciado os treinos de MMA no país, acabou não estreando profissionalmente lá por conta do incidente na boate, que motivou a sua vinda para o Brasil.
Com 15 anos e empolgado em seguir carreira como lutador, precisou tomar a dura decisão de sair de casa, já que sua mãe afirmou que não o apoiaria financeiramente mais.
- Minha mãe sempre me deu apoio, mas nunca vou esquecer o que ela falou pra mim quando tinha 15 anos. Ela disse: "Isso não vai dar certo. Você tem que arrumar um trabalho, arrumar um apartamento." Mas eu falei que queria lutar, e ela disse que não me apoiaria mais financeiramente. Então, com essa idade, saí de casa e fui morar na academia, bem longe. Fui indo assim, guardando dinheiro, fazendo meus trabalhos. Fui morar na Tailândia, competi no Canadá. Mas vi que no muay thai, a vida seria um sofrimento. Não tem dinheiro nesse esporte. Para ganhar dinheiro, tem que ser top. E você toma muita porrada.
FUTEBOL CHEGOU A SER OPÇÃO
Darren Till hoje é lutador do Ultimate, mas já sonhou em atuar na Premier League. Na infância, jogou de lateral-direito e, garante, era bom jogador. Porém, como arrumava muitas confusões, foi aconselhado por seu pai a trocar as chuteiras pelas luvas.
Não tenho inspirações no MMA. Tem muito cara no boxe e MMA que você olha e fica impressionado, mas minha inspiração sou eu. Eu acho que eu faço o melhor"
Darren Till
- Eu tinha o sonho de ser jogador de futebol. Era lateral direito. Mas eu brigava muito. Meu pai falava que eu era louco, dava chute na cabeça dos outros. Meu pai reclamava comigo, falava que era pra fazer muay thai. Cheguei a jogar no estádio do Liverpool, no estádio do Everton. Era bom. Torço para o Liverpool, mas não acompanho muito mais. Futebol não pega muito minha atenção não. A gente vê os caras ganhando muito dinheiro, e a gente aqui sofrendo.
O dinheiro que via o amigo Terry Etim ganhar serviu para que ele optasse por migrar do muay thai para o MMA.
- Vi que o UFC estava crescendo muito. Meu amigo, Terry Etim, que levou aquele chute do Edson Barbosa, estava ganhando muito dinheiro. E a gente saía na porrada no sparring. Então vi que aquele poderia ser o caminho, só que teria que treinar outras coisas. Depois que levei aquelas facadas, tomei a decisão de vir para o Brasil. Meus pais falaram que não era uma boa ideia, mas acabou sendo. Tenho filha e uma família, que são meus amigos.
Darren Till e a tatuagem em homenagem a sua irmã (Foto: Raphael Marinho)
Quando fala da família, Darren Till não se refere apenas a Gisella e Scarlett. Em seu pescoço, por exemplo, ele tem uma tatuagem com o nome de sua irmã, Caitlin, da qual se orgulha.
- Fiz essa tatuagem em 2010, em homenagem a minha irmã, quando voltei da Romênia após lutar no K-1. Ela estava em uma época ruim, e fiz isso para ela saber que eu a amo. Ela é igual a mim. Não fez escola, queria fazer muita festa, e agora, tem quatro trabalhos. Está indo muito bem na vida. Tenho orgulho dela.
SEM INSPIRAÇÕES NO MMA, TILL ESBANJA CONFIANÇA
O convite para lutar no Ultimate surgiu de repente, apenas 10 dias antes do UFC: Condit x Alves, para substituir TJ Waldburger. O pouco tempo para se preparar é visto de forma positiva por Darren Till, que joga a responsabilidade para o lado de Wendell Negão e se vê sem pressão por vitória em sua estreia na organização. - Eu fiz uma luta umas três semanas atrás em Apucarana, com o Laerte Midnight, da Chute Boxe. Estava valendo cinturão. Eu fui fazer a luta, e depois não tinha mais luta marcada. Fiquei uam semana de férias, comendo muito, como lutador faz. Aí recebi a notícia do Marcelo, me dizendo para me preparar porque, em 10 dias, lutaria no UFC. É um sonho para todos os lutadores. Eu achei que foi até melhor para mim, porque estou sem pressão. Fui contratado e fui logo para a luta, contra um cara muito duro. Então, para mim, não estou pressionado, mas pronto para ir lá e dar o show - analisou o atleta da Astra Fight Team, que garante não ter nenhuma inspiração no MMA.
- Não tenho inspirações no MMA. Tem muito cara no boxe e MMA que você olha e fica impressionado, mas minha inspiração sou eu. Eu acho que eu faço o melhor.
Darren Till e Wendell Negão em encarada na pesagem do UFC Goiânia (Foto: Raphael Marinho)
A confiança em seu jogo em pé lhe faz crer que Wendell Negão não irá querer manter o duelo na trocação por muito tempo e o fato de lutar sem o apoio da torcida tampouco lhe preocupa.
- Acho que o Wendell não tem chance se trocar comigo. Acho que ele vai entrar e tentar me quedar, mas tenho certeza que não vai conseguir. A torcida contra não me preocupa. Já fui para vários países, lutei com estrelas locais, então para mim não tem problemas. Fui lutar na Argentina contra um cubano, que é ídolo lá, e fui hostilizado. Xingaram minha mãe e etc. Mas não ligo para isso.
O UFC: Condit x Alves acontece neste sábado, a partir das 20h (de Brasília), com transmissão ao vivo do canal Combate e em Tempo Real do Combate.com. O site também transmite em vídeo as duas primeiras lutas do evento, Luiz Besouro x Tom Breese e Juliana Lima x Ericka Almeida. Confira o card completo: UFC: Condit x Alves 30 de maio, em Goiânia (GO) CARD PRINCIPAL Peso-meio-médio: Carlos Condit x Thiago "Pitbull" Alves Peso-pena: Charles do Bronx x Nik Lentz Peso-meio-médio: KJ Noons x Alex Cowboy Peso-meio-pesado: Francimar Bodão x Ryan Jimmo Peso-meio-médio: Wendell Negão x Darren Till Peso-leve: Francisco Massaranduba x Norman Parke CARD PRELIMINAR Peso-pena: Rony Jason x Damon Jackson Peso-mosca: Jussier Formiga x Wilson Reis Peso-meio-médio: Elizeu Capoeira x Nicolas Dalby Peso-leve: Mirsad Bektic x Lucas Mineiro Peso-palha: Juliana Lima x Ericka Almeida Peso-meio-médio: Luiz Besouro x Tom Breese
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